Israelenses lutam contra palestinos. Xiitas se opõem a sunitas. Radicais muçulmanos organizam ataques terroristas. Para entender o maior barril de pólvora do mundo, é preciso conhecer a história do local
Em 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os ataques terroristas aos Estados Unidos, a rede de TV árabe transmitiu um vídeo de Osama bin Laden. Nele, o chefe da rede Al Qaeda falava da “humilhação” que o Islã havia sofrido durante “mais de 80 anos”. O líder radical referia-se ao fato de, em 1918, o Império Turco-Otomano – a última grande potência muçulmana – ter sido derrotado pelos europeus. Sua capital Constantinopla foi tomada e a maior parte das terras, conquistadas por Maomé a partir do século 7, divididas em territórios com fronteiras novas e nomes inspirados em regiões da Antiguidade cujos limites não correspondiam ao novo traçado. Dois deles, chamados de Iraque e Palestina (hoje Israel, Jordânia e Cisjordânia), ficaram sob domínio britânico. Já o terceiro, que recebeu o nome de Síria (atuais Síria e Líbano), coube aos franceses. Pior: quatro anos depois, o califado, símbolo da unidade política do Islã por 13 séculos, cedia lugar a estados-nações com leis e costumes importados do Ocidente.
Bin Laden não é o único que usou os ressentimentos do passado para justificar ações presentes. No Oriente Médio, batalhas e heróis de séculos (ou milênios) atrás continuam reverberando no discurso dos líderes atuais para mobilizar as massas. Judeus até hoje celebram a conquista de Jerusalém por Davi, há 3 mil anos, e a unificação do antigo reino de Israel. Hassan Nassralah, chefe do Hezbollah, gosta de se comparar ao líder curdo Saladino, que em 1187 liderou a vitória dos muçulmanos sobre os cruzados na Terra Santa. O dirigente iraquiano Saddam Hussein dizia-se herdeiro do rei babilônico Nabucodonosor e de Saladino – embora Saddam tenha matado milhares de curdos nos anos 80.
Bin Laden não é o único que usou os ressentimentos do passado para justificar ações presentes. No Oriente Médio, batalhas e heróis de séculos (ou milênios) atrás continuam reverberando no discurso dos líderes atuais para mobilizar as massas. Judeus até hoje celebram a conquista de Jerusalém por Davi, há 3 mil anos, e a unificação do antigo reino de Israel. Hassan Nassralah, chefe do Hezbollah, gosta de se comparar ao líder curdo Saladino, que em 1187 liderou a vitória dos muçulmanos sobre os cruzados na Terra Santa. O dirigente iraquiano Saddam Hussein dizia-se herdeiro do rei babilônico Nabucodonosor e de Saladino – embora Saddam tenha matado milhares de curdos nos anos 80.
A simbologia do passado é tão forte no Oriente Médio que as disputas nacionais acabam assumindo caráter religioso. Foi assim com o conflito entre israelenses e palestinos, que começou no início do século 20 como uma luta por terras e acabou atraindo radicais religiosos dos dois lados. É assim no Iraque, onde milícias armadas revivem hoje o conflito instaurado pelo cisma entre sunitas e xiitas nos primórdios do Islã.
É fato que os interesses petroleiros também ajudam a explicar as tensões no Oriente Médio. Mas a região só se tornou um dos pontos mais inflamáveis do mundo graças à constante mescla entre religião e política, entre passado e presente. Portanto, para entender o que ocorre lá hoje, é preciso voltar no tempo. Pelo menos 5 mil anos atrás.
Primeiros habitantes
O mapa do Oriente Médio que vemos hoje é apenas o mais recente capítulo de uma longa saga. Desde 3 mil a.C., essa faixa de terra na encruzilhada da Europa, Ásia e África foi dominada – em maior ou menor escala – por diversos reinos e impérios, em conquistas não-lineares. Entre eles, os egípcios (a partir de 2500 a.C.), hititas (por volta de 1500 a.C.), israelitas (século 10 a.C.), assírios (século 8 a.C.), babilônios (século 7 a.C.), persas (século 6 a.C.), macedônios (século 4 a.C.), romanos (século 1), bizantinos (século 5), sassânidas e califado islâmico (século 7), seljúcidas, cruzados e muçulmanos liderados por Saladino (século 12), império mongol (século 13), império otomano (século 16) e potências ocidentais, no início do século 20.
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